Investidores árabes de olhos postos em Portugal

30 OUT

O saldo comercial entre Portugal e os 22 países árabes é positivo. Construção e agro-alimentar são sectores fulcrais.Há vários investidores árabes atentos às oportunidades de negócio que o sector do turismo e do imobiliário em Portugal apresenta. Não são apenas grandes empresas, mas também investidores de média dimensão que estão a estudar a possibilidade de apostar no país. A garantia é dada pela secretária-geral da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa.A Câmara está a preparar o terceiro Fórum Económico Portugal-Países Árabes, em Novembro, e já tem assegurada a maior participação de sempre de investidores árabes, com mais de cem inscrições. “Um valor que permite quantificar o real interesse dos investidores em Portugal”, diz Aida Bouabdellah.Mas o evento, tal como a Câmara em si, tem uma dupla finalidade: atrair investidores árabes para Portugal, mas também criar oportunidades de negócio para as empresas lusas nos 22 países da Liga Árabe. Oportunidades que se traduzem na internacionalização das empresas, mas também no aumento das suas exportações para estes mercados.A construção é normalmente o sector mais visível nestas relações bilaterais. “Uma área onde Portugal dá cartas, com a penetração nestes mercados de projectistas, consultores, gabinetes de arquitectos e, claro, empresas de construção”, diz Aida Bouabdellah. Mas não o único, nem aquele que envolve mais empresas. “A construção é talvez onde estão as empresas mais direccionadas para a internacionalização apesar de não serem as mais numerosas”, garante, dando como exemplos os contactos que tem tido de empresas dos sectores do mobiliário, agroalimentar, metalomecânico, farmacêutico ou da saúde. “Os interesses são muito díspares. No fundo são 22 países”, lembra.Aida Bouabdellah não gosta de individualizar Estados, nem empresas – a Câmara com 38 anos de vida tem sempre tido como lema o sigilo – mas não pode deixar de constatar que há países com os quais Portugal tem uma relação mais próxima. Os números atestam-no. Marrocos e Argélia são os países para os quais Portugal mais exporta e a Arábia Saudita o país de onde Portugal importa petróleo. Se em 2013 a balança comercial era positiva para Portugal (115,4 milhões de euros), no ano seguinte esta tendência inverteu-se (-151,3 milhões de euros). Este ano, de acordo com os dados disponibilizados pelo INE, de Janeiro a Agosto, o saldo é novamente positivo para Portugal em 74,6 milhões de euros.Estes dados têm todo o potencial para melhorar, não só porque as relações institucionais entre os dois países são cada vez melhores – “são assinados cada vez mais acordos bilaterais em matéria de investimento e de isenção de dupla tributação”, diz – mas também porque há cada vez mais empresas a abordar a câmara com intenções de descobrir estes países. De tal forma que um dos serviços que é disponibilizado aos empresários é “a realização de missões privadas”. Há duas semanas, por exemplo, foi feita uma à Arábia Saudita. E este não é um requisito de apenas grandes empresas, para as quais “existem serviços especializados”, mas também para as de média dimensão, mas claro, “com capacidade para se internacionalizarem”.As diferenças culturais também não são um entrave aos negócios, nem a instabilidade política ou os ataques do Estado Islâmico, garante Aida Bouabdellah, que segue, com orgulho, as pisadas do pai, o anterior responsável da Câmara. O facto de ser mulher, num cargo destacado, que é escolhido pelos países árabes dá-lhe o conforto de defender os dois lados.A responsável reconhece que em termos de investimento e de relações empresariais se “poderia estar muito melhor”, mas já foi feito um grande caminho tendo em conta que em dez anos as relações comerciais quadruplicaram. “Portugal deveria mostrar-se mais”, aconselha Aida Bouabdellah e para isso sugere “mais cooperação institucional”, nomeadamente com a Aicep. O ‘roadshow’ de investimento ao Qatar, Koweit e Arábia Saudita, que vai ser realizado em cooperação com a agência dirigida por Miguel Frasquilho, é um exemplo do que de bom se pode fazer. Fonte: Económico