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Jornadas Árabes 1997 | Jornadas Árabes 2002


A Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa (CCIAP) organizou nos dias 17 e 18 de Maio, a 3ª Edição das Jornadas Árabes intitulada: “Memórias Árabe-Islâmicas, Diálogo entre Civilizações”.

Sob O Alto Patrocínio e Presença de Sua Excelência O Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, em estreita colaboração com a União das Câmaras Árabes, a Liga dos Estados Árabes e as Embaixadas Árabes acreditadas em Portugal e, à semelhança das Jornadas organizadas em 1997 e em 2002, pretendeu-se dar continuidade e ênfase à Herança Árabe-Islâmica na Península Ibérica, fomentando ainda um maior intercâmbio entre as Civilizações.

O primeiro dia destas Jornadas, 17 de Maio, foi reservado à realização de um Colóquio no Auditório do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, com a ilustre Presença e Participação de Sua Excelência O Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, e de Altas Individualidades da vida política, académica e cultural de Portugal, dos Países Árabes e de Espanha.
No segundo dia, 18 de Maio, foram realizadas visitas guiadas a Lisboa e Sintra, nas quais se pretendeu ressaltar alguns dos legados e vestígios urbanísticos e outros testemunhos da presença Árabe em Portugal.


OBJECTIVOS:

Estas Jornadas Árabes tiveram por objectivo:

  • O Incremento e consolidação das relações de cooperação e de amizade entre Portugal e os 22 Países da Liga dos Estados Árabes;
  • O Reforço do intercâmbio cultural;
  • A Promoção das relações entre Portugal e os Países Árabes;
  • Dar a conhecer melhor as realidades culturais e sociais Árabe-Islâmicas;
  • Dar a conhecer as influências Árabe-Islâmicas na cultura Ibérica, ressaltando a convivência multisecular entre Portugueses e Árabes;
  • Dar a conhecer o legado resultante desse contacto, cujos vestígios se reflectem em áreas tão distintas como a língua, literatura, música, arquitectura, gastronomia, costumes e contributos técnico-científicos.

TEMAS:

O primeiro dia foi consagrado ao Colóquio, com a ilustre participação de Altas Individualidades, Instituições, Entidades e Personalidades da vida política, académica e cultural de Portugal, dos Países Árabes e de Espanha, onde foram focados, nas várias Sessões, temas directamente afectos ao Legado Histórico, Cultural e Civilizacional Árabe-Islâmico, a Herança do Povo Árabe na Península Ibérica, os Contributos para a Sociedade actual, entre outros de elevado relevo para a compreensão dos objectivos pretendidos.

PARTICIPANTES:

Este importante Evento esteve aberto a todos aqueles que pretenderam alargar o seu conhecimento sobre as temáticas a serem abordadas, e que visaram o diálogo e debate entre os vários Intervenientes, bem como a demonstração do legado Árabe-Islâmico na Península Ibérica, sendo dirigido à Sociedade Civil em geral, Portuguesa, Árabe e Espanhola, destacando-se:

  • Instituições Públicas e Privadas para o Conhecimento e Cultura;
  • Universidades, Faculdades, Institutos;
  • Instituições de Ensino;
  • Comunidades Académicas e Científicas;
  • Entidades Municipais;
  • Federações e Câmaras de Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços dos Países Árabes;
  • Organizações e Associações Empresariais e Sectoriais Portuguesas e Árabes;
  • Autoridades para o Desenvolvimento e Investimento, Árabes e Portuguesas;
  • Estudantes e Público em geral;
  • Entidades e Empresas que pretendessem a promoção e expansão de conhecimentos.

A HERANÇA:

A história de um país é simultaneamente inspiração e origem da sua identidade e da sua cultura. A história de Portugal, com cerca de 9 séculos, é reconhecidamente das mais ricas, mas resulta, ela própria, de interacções e convivências com outros povos e, frequentemente, em outras latitudes.

Com 5 séculos de presença Árabe em Portugal, o seu legado é justamente reconhecido, não apenas como um dos mais relevantes no curso da história Portuguesa, mas também como tendo um impacto visível e actual nos mais diversos domínios da sociedade Portuguesa.

Para além da nomenclatura de regiões, cidades e aldeias, esse impacto é, ainda hoje, visível em áreas tão distintas como a língua, literatura, música, arquitectura, gastronomia, costumes e contributos técnico-científicos.

Desde unidades de peso e medida, como arroba ou alqueire, à incontornável presença do Árabe na língua Portuguesa.

De igual forma, não é possível ignorar o impacto da Arte Islâmica na arte e arquitectura Portuguesas, especialmente no que refere às artes decorativas como o azulejo ou a louça, sendo o azulejo um legado Árabe-Islâmico em Portugal.

Na arquitectura, a influência Árabe-Islâmica está presente não tanto na forma das construções, mas na adopção das técnicas de construção, de funções e de volumes na elevação de edifícios, sendo alguns exemplos em Portugal fruto desta influência.

Convém ainda salientar a importância que esta herança teve em técnicas de pesca, agricultura e comércio.

A LÍNGUA

Uma das maiores e indeléveis heranças Árabe-Islâmicas na cultura Portuguesa é sem dúvida na sua língua, onde subsistem inúmeros vestígios Árabes. Apesar de normalmente se referir a existência de cerca de 1.000 substantivos/vocábulos de origem Árabe no Português, sabe-se hoje, que esta é uma avaliação que não faz jus ao real. O Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, de Adalberto Alves, avaliou em mais de 18.000 os termos de origem Árabe na língua Portuguesa, com amplo impacto ao nível gramatical, incluindo não só inúmeros substantivos, mas também adjectivos, verbos, entre outros.

LITERATURA

Sabendo-se que a literatura é por excelência um reflexo e simultaneamente um veículo de cristalização histórica, linguística e cultural, a profunda influência Árabe-Islâmica está enraizada e evidenciada em obras de muitos dos principais expoentes da literatura Portuguesa. Esta influência percorreu diversas épocas e correntes literárias, e pode ser sentida em obras de autores como Antero de Quental, Fernando Pessoa, entre diversos outros. Como refere Adalberto Alves: ”E sem o sentimento de saudade, herdado do nasib [destino] da qasida [poesia] Árabe, de raiz beduína, que seria feito do nosso lirismo? Que Camões seria possível? A este respeito, e bem, Fernando Pessoa afirma expressamente que nós somos um povo Romano-Árabe porque foram os Árabes que nos educaram. E Antero de Quental acrescenta, não o esqueçamos, filia a nossa decadência na expulsão dos Árabes.”    

COSTUMES

Muitas das tradições e costumes mais enraizados na sociedade Portuguesa são originários na convivência Árabe, cobrindo os diversos aspectos da arte e cultura nacional, passando pelo artesanato, tapeçaria, artes decorativas, entre outros. É assim evidente, como a convivência multisecular com o povo Árabe enriqueceu o que, com o tempo, se viriam a tornar traços distintivos e “genuínos” da cultura Portuguesa.

MÚSICA

Na música, existe uma herança Árabe, quer no que respeita aos instrumentos, quer na inspiração de géneros musicais incontornáveis no panorama musical Português. Assim, por um lado, muitos dos mais relevantes instrumentos musicais, ainda hoje usados, como o violino, o alaúde, a gaita, o adufe, ou a própria guitarra Portuguesa, derivam de instrumentos Árabes.
De forma mais visível, o fado, elemento central na identidade cultural Portuguesa, tem raízes na tradição musical Árabe.

CONTRIBUTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS

É hoje amplamente reconhecido o impacto da aprendizagem Árabe-Islâmica no estudo e produção científica. Desde logo, um dos pontos mais evidentes é a numeração utilizada, que foi deixada pelo povo Árabe. Talvez menos lembrado é o facto de a evolução científica em muito ter beneficiado, de forma directa, da tradução de obras científicas pelos povos Árabes, desenvolvendo áreas tão díspares como a química, medicina, astronomia, geografia ou a matemática.

As consequências deste contributo técnico-científico foram claras e podem ser retratadas em algumas áreas especialmente evidentes.

A agricultura beneficiou muito com a presença Árabe-Islâmica. Com a introdução de novas técnicas de regadio puderam cultivar legumes e plantar árvores de fruto. Para além de darem a conhecer processos de rega, também generalizaram o uso de moinhos de vento. Introduziram novas culturas que ainda hoje existem nos campos Portugueses: laranjeira, limoeiro, amendoeira, figueira, alfarrobeira e meloeiro, tendo também desenvolvido o cultivo da oliveira.

Sublinhe-se ainda, a relevância que a herança Árabe teve nos descobrimentos Portugueses, com o seu legado nas ciências de navegação, fundamentais na descoberta de novos mundos para Portugal.

GASTRONOMIA

Na gastronomia, a influência Árabe teve impacto directo na agricultura e dieta mediterrânica que, ainda hoje, é pilar em Portugal, tendo sido responsável pela introdução de produções agrícolas como as árvores de fruto, arroz, oliveira ou a videira, bem como técnicas de regadio.
Entre muitos outros exemplos, o resultado da convivência entre os povos é muito evidente na gastronomia tradicional do Alentejo ou na do Algarve.

ARTE E ARQUITECTURA

Na arquitectura foram adoptadas várias soluções e técnicas construtivas para a resolução de problemas de ordem estrutural dos edifícios, como as arcadas em capitéis, as paredes em taipa, ou os arcos em ferradura, alguns ainda hoje existentes em locais como Elvas, Faro ou Mértola. Por outro lado, elementos das artes Islâmicas, como os arabescos, ou o revestimento de superfícies a azulejo e mosaico, são facilmente identificáveis na arquitectura de inúmeras habitações e edifícios.

Áreas como o urbanismo, a arquitectura, a cerâmica, ou outros objectos de uso diário, foram campos artísticos muito desenvolvidos na arte Islâmica. Todos estes, são ainda hoje visíveis em Portugal, fazendo parte da cultura e identidade Portuguesas, como disso é exemplo a ornamentação das superfícies ou elementos decorativos como os adornos em estuque trabalhado.
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